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Um Médico Singular – Laerte Idal Sznelwar

A Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial estabelece que a saúde e bem-estar do paciente devem ser a primeira consideração de um médico, com respeito à sua autonomia e dignidade. O professor Laerte Idal Sznelwar sem dúvida deu a esse compromisso uma nova dimensão. Formado em Medicina pela Unicamp em 1980, com mestrado e doutorado pelo Conservatoire National des Arts e Métiers na França, teve atuação de destaque como professor e pesquisador na área de Ergonomia, tanto no Brasil como no Exterior. Ingressou como professor em tempo integral no Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP em 1993, onde foi responsável pelas disciplinas de Ergonomia, Saúde e Segurança no Trabalho e Engenharia e Sociedade na graduação e Ergonomia na pós-graduação, membro do Conselho e coordenador de Graduação, membro da Comissão de Relações Internacionais da Escola Politécnica, sempre com competência e dedicação, lembrado pelos colegas com pessoa afável e bem-humorada. Aposentou-se precocemente em 2021, para dedicar-se à medicina, após carreira acadêmica de sucesso, falecendo de forma inesperada em 23 de novembro de 2025.

Foi na área de Ergonomia e Psicodinâmica do Trabalho que o professor Laerte deixou seu legado mais importante: seus estudos sobre o impacto do trabalho nos profissionais das mais diversas áreas, da agricultura à manufatura e serviços, sempre procuraram valorizar o trabalhador e refletem como o respeito à autonomia e dignidade humana permearam sua atuação. Ele foi responsável pela formação de dezenas de pesquisadores no tema, criou a Jornada de Ergonomia e teve participação de destaque na Associação Brasileira de Ergonomia. Dessa forma, o legado do professor Laerte não se limita às dezenas de artigos e livros publicados, mas às pessoas que formou e impactou.

Homenagens ao professor:

Laerte foi uma pessoa tranquilamente inquieta. Aparentava uma tranquilidade e lidava tranquilamente com assuntos difíceis ou com conflitos. Pelo menos, assim transparecia. Mas era inquieto, não se acomodava. E era firme, posições muito claras, defendidas firmemente, ainda que tranquilamente. E alegre.” Mario Sergio Salerno

A palavra “Mensch” se origina do alemão, significa “pessoa”, “ser humano”. Ao longo dos anos esta palavra ganhou mais significados no iídiche (língua judaica originária do alemão), é usada para referenciar pessoas íntegras, de bom caráter, honradas. O que mais eu posso falar sobre o Laerte?? O que mais nós todos que o conhecemos podemos dizer sobre este “Mensch”? Eu tive o privilégio de conviver com ele por décadas, o Laerte criou a área de Ergonomia, coordenou projetos sobre mitigação de doenças no trabalho, análise do trabalho. Sua relação com os alunos era algo que eu sempre invejei, sua empatia era algo emocionante, sua calma no trato de situações delicadas era algo que nos fazia sempre querer ouvi-lo para melhor lidar com elas. Amava vinhos, boa mesa, junto com a Marcia preparava jantares e criava ambientes que ficarão sempre na memória. O lugar em que ele está agora será privilegiado por ter um “Mensch” assim, com letra maiúscula.Roberto Marx

Laerte, sempre tão querido por todos. Sem nem me conhecer, me recebeu em sua sala de coração aberto (como sempre fazia com todos) para conversarmos sobre a possibilidade de fazer doutorado no PRO. Deu tudo certo. Você tornou possível. Me acolheu, me ensinou, me formou. Naquele dia também conversamos sobre o sonho de um dia ser professor. Deu tudo certo. Você tornou possível. Hoje, estou aqui, por sua causa e vou honrar cada dia nessa profissão, em respeito a você. Falarei de você sempre no presente. Pois seu legado será eterno. Você viverá para sempre na maneira como nós, que nos tornamos professores por sua causa, pensamos, agimos e enxergamos o mundo e as pessoas. E nossos alunos também. E os alunos deles também. Obrigado por tudo.” Tiago Sigahi

“Uma pessoa especial. Assim guardarei para sempre a lembrança de Laerte. Foram mais de trinta anos de convívio como colega mas, sobretudo, como amigo, como irmão. Ficará eternamente a gentileza, a generosidade, a sabedoria que ele sempre soube preservar, nos momentos difíceis e também, nos muitos, de grandes alegrias que tivemos juntos. Parte repentinamente. Contudo, nos deixa suas realizações, seu bom humor e sua grandeza. Descanse em paz meu amigo. Fausto Leopoldo Mascia

“Laerte foi alguém que seguiu a recomendação judaica de milênios, que guiou a sua vida: “corrigir, aperfeicoar o mundo”. Poucos se dedicaram a isso tão profundamente como Laerte, que se dedicou com alma para a formação das novas gerações de engenheiros, para transformar e ensinar a transformar o trabalho de todas as pessoas na direção da justiça e da dignidade. Poucos como ele dedicaram tanto a vida para um mundo melhor. Laerte não pode e não será esquecido pelos que tiveram a honra de conhecê-lo.” Mauro Zilbovicius

“Laerte foi o esteio da área de Ergonomia no departamento de Engenharia de Produção. Sempre se dedicou ao desenvolvimento da área e sobretudo das pessoas que nela trabalham. Em não raras ocasiões tivemos opiniões diferentes sobre alguns assuntos, mas sempre reconheci que ele manteve uma postura cortês e educada. Quando fui Chefe do departamento e ele coordenador da graduação, nosso relacionamento institucional e pessoal foi sempre muito bom e positivo. Lembro-me sempre dele quando passo em frente a um restaurante de culinária árabe que ele e eu frequentávamos e onde casualmente nos encontramos mais de uma vez. Ele tinha mais paciência do que eu de esperar na fila.
Fiquei perplexo com sua partida precoce. Que suas boas obras permaneçam e que Deus acolha sua alma.” Fernando José Barbin Laurindo

Por dentro do trabalho — começo minha reflexão com este título de um livro seminal, que bem representa toda a trajetória do nosso estimado e inesquecível Prof. Laerte. Sinto-me privilegiado por ter conhecido e convivido por cerca de 30 anos com uma pessoa tão singular. Seus ensinamentos e exemplo de vida fizeram escola entre nós. João Amato Neto