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PRO recebe visita do Professor Matthieu Montalban (Universidade de Bordeaux)

Texto: João Valsecchi


Consequências da economia de plataforma: novas soluções para velhos problemas?

Reflexões sobre os efeitos do surgimento de novos negócios baseados em tecnologias digitais é tema da visita de professor da Universidade de Bordeaux na USP

Durante os dias 27/10 e 04/11/22 o professor Matthieu Montalban, da Bordeaux School of Economics (BxSE) da Universidade de Bordeaux, esteve na USP como professor visitante no âmbito do Programa USP-COFECUB e foi recebido pelos coordenadores do projeto, os professores Roberto Marx, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli), e Adriana Marotti de Mello, do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA).

Durante a sua visita, o professor realizou dois seminários de pesquisa abertos à comunidade acadêmica, um na Poli, no dia 31/10, e outro na FEA, no dia 03/11. O  intuito central dos seus seminários foi promover uma reflexão sobre as consequências do fenômeno da economia de plataforma, no qual novos modelos de negócio baseados em tecnologias digitais se beneficiam da alta capacidade de escala, do poder dos efeitos da imensa rede de usuários e das bases de dados massivas que são constituídas para viabilizar a operacionalização desses negócios, como é o caso do contexto de atuação de empresas como a Uber, Ifood e Bla Bla Car.

Como combinar transições tecnológicas com mudanças institucionais?

O professor destaca que, muitas vezes, o desenvolvimento das novas tecnologias digitais e, consequentemente, dos novos negócios sustentados por essas tecnologias é, por si só, entendido como uma “forma de poder” no prisma da economia de plataforma. Para ele, é necessário compreender “como se dá o processo de legitimação das mudanças institucionais que são necessárias para a plena incorporação dessas tecnologias digitais pela sociedade, bem como de seus efeitos”, já que isso envolve tempo, esforço e, inevitavelmente, inúmeras relações de poder, uma vez que elas podem ser aplicadas, por exemplo, pelos próprios governos como um “mecanismo de legitimação de projetos de reforma econômica neoliberal baseados na ideia de um governo inovador e inteligente”, algo recorrente nos dias de hoje.

Novas soluções para velhos problemas?

Além disso, o pesquisador destacou que na esteira da organização de negócios baseados em economia de plataforma observam-se, como exemplos de consequências desse fenômeno, o aumento das relações de terceirização, a super valorização do trabalho autônomo – e por vezes precarizado –, a criação de uma “relação de dependência de usuários pelas plataformas digitais” e, muitas vezes, uma necessidade de “ultrapassar regras” por parte das empresas centrais que estão por trás desses negócios, visto que a princípio não existe uma legislação viável para viabilizar determinados serviços, a exemplo dos casos de muitos negócios no campo da mobilidade urbana.

Com isso, por mais que o rótulo de “inovador” seja recorrentemente atribuído aos negócios oriundos da economia de plataforma, os problemas que estão sendo abordados por eles não são necessariamente novos e, da mesma forma, as soluções dadas a eles podem não ser consideradas tão inovadoras assim.

Nesse sentido, Montalban defende que é preciso balancear a ideia de um suposto “determinismo tecnológico”, no qual o domínio de tecnologias digitais exerce papel central nas transformações da sociedade, com a incorporação da análise dos efeitos institucionais que são intrínsecos à transição pela qual o mundo está passando diante da economia de plataforma, como é o caso das mudanças nas relações de trabalho, nos aspectos legais e de comportamento.

O Programa USP-COFECUB

Criado em 1994 pela Universidade de São Paulo e o Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil, o Programa USP-COFECUB é uma iniciativa institucional coordenada pela Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI) que busca fomentar e desenvolver a cooperação acadêmica por meio de intercâmbio de pesquisadores, o que propicia a realização de pesquisas conjuntas entre grupos da USP e da França e facilita a troca de informações e a colaboração entre as duas comunidades científicas.

O projeto em questão foi aprovado em edital de 2019 do programa e iniciado em 2022 por conta da pandemia de Covid-19. Intitulado “Who drives the change? Transitions for sustainable mobility, the role of automotive industry and new business models”, tem por objetivo discutir o papel de firmas incumbentes e novos entrantes na transição para sistemas mais sustentáveis de mobilidade urbana e foi firmado entre pesquisadores da USP e da Universidade de Bordeaux.